Antes do fim do inverno, tinha quase a certeza de que o verão seria calmo e cheio de boa disposição, para todos nós, em especial para os que entrariam de férias e para os que nos revisitam anualmente, procurando o acolhimento e afabilidade desta terra e de suas gentes. Irei-me enganar?
Sei que nem sempre o que projectamos com rigor, acaba por ter a execução que nos prometeram e posso dar o exemplo da obra da Santa Casa da Misericórdia, ali na Rua Coronel Linhares de Lima, que estava prevista para estar pronta, no início do ano lectivo (Setembro de 2008) e agora esse ATL só irá receber as nossas crianças-utentes lá para Setembro, mas de 2009. Esperemos que sim aconteça. Mas nem tudo é adiado na sua execução: o Porto da Manhenha está em andamento, a substituição da calçada na Rua do Poço também e a obra de requalificação da Avenida do Mar lá vai seguindo o seu ritmo. Então tudo está bem? Não mas só deve ser apontado quem nada faz.
E se por cá a nível de pequenas obras tal acontece, teremos de concordar com o velho ditado: quanto maior a nau maior a tormenta; e esta vai enquadrar-se na área do transporte marítimo de passageiros e viaturas inter-ilhas de Maio a Setembro. Não para este ano, mas para os próximos anos. Porquê? Ora é tempo de se perceber que este Governo criou uma nova esperança para todos nós, quando apostou neste tipo de transporte marítimo, de Santa Maria às Flores. Fez experiências no primeiro ano e continuou. Por acaso a A.M.T. tinha feito uma experiência em 1996 com um Trijet, nada comparável à aposta hoje garantida pelos catamaran (Expressos Almeida) da Transmaçor. Esquecemo-nos muitas vezes do que antes existia e depois, legitimamente, quando atingimos um patamar de qualidade média, já não abdicamos do mesmo. E isto é legitimo repito, mas neste tempo de acertos e de avaliações devemos ponderar que foi este Presidente do Governo quem apostou nesta nova era de modernidade, no transporte marítimo de passageiros e viaturas inter-ilhas de Maio a Setembro. Nem tudo correu bem e ele sabe-o e sente-o melhor que todos nós;
Muito foi experimentado a nível de operadores e o último modelo encontrado com capitais públicos na Atlânticoline S.A. parece ser o mais estável;
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Expresso do Triângulo |
Mas também é tempo de se equacionar a verdade económica da Transmaçor. Se é certo que foi gerada como uma empresa quase virtual, com a finalidade de operar os “Cruzeiros” construídos pelo governo regional… quem o contesta? É também tempo de se clarificarem essas dúvidas, quase existenciais, mas pela positiva e não para entravar e fazer desaparecer as históricas iniciativas empresariais meritórias que foram então agrupadas na Transmaçor, quase que obrigatoriamente e, talvez por isso, aí estão os resultados: uma empresa com dificuldades… Aliás, nos debates do parlamento regional, pode-se encontrar ao longo dos últimos anos, um rico repositório de toda esta “estória”. Nem duvido também que todos eram bem-intencionados mas, tal como sempre e também recentemente, os resultados não foram os esperados nem os que prometeram aos utentes e o governo teve de acertar contas com a Transmaçor, primeiro quanto ao aluguer dos Cruzeiros e depois denunciar o contrato, já na nova fase, em relação à operação com o “Ilha Azul” de que a Transmaçor era proprietária, tendo o governo regional de assumir a operação de verão nos anos de 2007 e 2008… Por tudo isto, só com o investimento do Governo Regional em dois Ferrys novos – como estava programado – mas sem preconceitos em relação a pequenos lobbies paroquiais e explico: ligações de passageiros e viaturas nas ilhas do Triangulo terão de ser sempre: Horta - São Roque - Velas, querer-se algo diverso é só para empatar. Sempre assim pensei tendo como exemplo a ligação marítima que está implementada nas ilhas Canárias: Lanzarote – Fuerte Ventura, ilhas muito maiores do que as nossas e apenas com um terminal ferry em cada uma.
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Navio Viking que operará nos Açores |
E devemos também ter já em conta que o navio “Viking”, que irá operar nos Açores durante os meses de Julho, Agosto e Setembro tem cerca de 100 metros de comprimento, transporta 700 passageiros e 148 viaturas e atinge uma velocidade de serviço de 35 nós, (o Atlântida mal chegaria aos 18 nós) o que permitirá ser possível viajar de Ponta Delgada para Santa Maria em apenas duas horas, para a Terceira em quatro horas e entre S. Roque – Velas serão pouco mais de 15 minutos.
Claro que para todo o ano, no canal Faial – Pico, terá de se projectar outro tipo de embarcação, adaptada ao mar de inverno e com outra configuração e melhor desempenho que os actuais Cruzeiros, mas para esse tipo de embarcação actualmente os exemplos não abundam e terá mesmo de ser estudada com algum pormenor, atendendo às nossas peculiaridades marítimas, de Outubro a Abril.
Fica assim claro e mais que evidente, que nesta área do transporte de passageiros, sem o investimento do Governo da Região e do seu empenhamento efectivo neste sector, não auguramos futuro promissor, caso o mesmo seja aberto aos privados, como há poucos anos se reivindicou, a não ser que o serviço público de transporte marítimo de passageiros e viaturas seja assumido sem mais delongas a nível de toda a região, todo o ano e não só nalguns percursos, como há semanas S. Jorge reivindicava viagens diárias todo o ano no Triangulo, mas tudo isso tem de ser muito bem ponderado e ainda levará o seu tempo, para que não se cometam erros, que podem depois raiar a irresponsabilidade, pela inadequada decisão tomada.
Nesta área dos transportes marítimos – passageiros e viaturas - o que interessa relevar, em conclusão, é que os que nos deixaram na estagnação não nos merecem repúdio, mas ao invés desses, os que apostaram em algo de novo, mesmo com falhas de percurso, merecem o nosso aplauso.
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